O POSICIONAMENTO DO PRESIDENTE GABRIEL GARCIA MORENO E DO IMPERADOR DOM PEDRO II DIANTE DA USURPAÇÃO DOS ESTADOS PONTIFÍCIOS PELOS CARBONÁRIOS NA PESSOA DO REI VÍTOR EMANUEL.


PROTESTO DO PRESIDENTE DO EQUADOR, GABRIEL GARCIA MORENO, CONTRA A INÍQUA OCUPAÇÃO DOS ESTADOS PONTIFÍCIOS:

Ministério das Relações Exteriores do Equador

(Quito, em 18 de janeiro de 1871)

O abaixo-assinado do Ministro das Relações Exteriores da República do Equador tem a honra de dirigir-se à V. Exa. o Senhor Ministro das Relações Exteriores de V. M. o Rei Vítor Emanuel, em consequência dos inesperados e dolorosos acontecimentos verificados desde o dia 20 de setembro do ano precedente (1870) na capital do Orbe Católico.

Atacada a existência do Catolicismo no Representante da unidade católica, na pessoa sagrada de seu Augusto Chefe, a quem foi privado de seu domínio temporal, única e necessária, garantia de liberdade e independência no exercício da sua missão divina, é inegável que todos católicos, e com maior razão todo Governo que rege uma porção considerável de católicos, tem não só o direito, mas sim o dever de protestar contra aquele odioso e sacrílego atentado, e, entretanto, o governo que vos escreve aguarda em vão que se faça ouvir o protesto formalizado dos Estados poderosos da Europa contra a injusta e a violenta ocupação de Roma, e que V. M. o Rei Vítor Emanuel, renda espontaneamente uma homenagem em nome da justiça ao sagrado caráter do impotente e idoso Pontífice, retrocedendo do caminho da usurpação e devolvendo para a Santa Sé o território que acabara de arrebatar.

Mas, nunca escutamos a voz de nenhuma das Potências do Antigo Continente, e segue assim, Roma oprimida pelas tropas de V. M. o Rei Vítor Emanuel. O Governo do Equador, apesar da sua debilidade e da distância a que se está colocado, cumpre com o dever de protestar, e assim protesta, diante de Deus e diante do Mundo, em nome da justiça ultrajada e especialmente em nome do povo católico equatoriano, contra a iníqua invasão à Roma; contra a falta de liberdade a que está reduzido o Venerável e Soberano Pontífice, não obstante as promessas insidiosas; tantas vezes repetidas como cacarejos, e as irrisórias garantias de uma independência impossível com que se pretende encobrir a ignomínia da submissão; e, finalmente, contra todas as consequências que emanaram ou que no futuro possam emanar deste indigno abuso da força; em prejuízo de Sua Santidade e da Igreja Católica.

Ao assinar este protesto por ordem expressa do Excelentíssimo Presidente desta República, o subscritor faz votos ao Céu, afim de que V. M. o Rei Vítor Emanuel repare nobremente o efeito deplorável de uma cegueira passageira; antes que a honra dos seus ilustres antepassados seja reduzida a cinzas pelo fogo vingador de revoluções sangrentas.

Aproveitando esta oportunidade, quem vos subscreve tem muito prazer em oferecer ao Ex.mo Senhor Ministro das Relações Exteriores de V. M. o Rei Vítor Emanuel, com toda a segurança e respeito os votos para que a de V. Exa. seja um servo muito obediente,

Francisco Javier Léon.

Ao Ex.mo Senhor Ministro das Relações Exteriores de V. M. o Rei Vítor Emanuel

(ESCRITOS E DISCURSOS DE GABRIEL GARCIA MORENO – SEGUNDO TOMO – ANO 1888 – PÁGS. 232-233)


A VISITA DO IMPERADOR DO BRASIL, DOM PEDRO II, AO PAPA PIO IX:

Um dia, em 1872, às sete horas da manhã, o imperador do Brasil, hóspede havia alguns dias de Victor Manuel, apresentou-se no Vaticano. O Santo Padre dizia a sua missa. Logo que findou, anunciaram-lhe o imperador do Brasil, o qual provavelmente era pouco esperado a uma hora tão matinal.

O Santo Padre ordenou que o introduzissem, e entrando este, S. Santidade perguntou-lhe:

— Que deseja V. Majestade?

— Peço a V. Santidade que não me trate por Majestade. Eu sou aqui o Conde de Alcântara.

Sem se mostrar comovido, o Santo Padre respondeu:

— Muito bem; meu caro conde, que pretende?

— Venho pedir a V. Santidade que me permita apresentar-Ihe S. Majestade o rei de Itália.

Ouvindo isto, o Santo Padre levantou-se, e com um olhar fulminante dirigiu ao imprudente imperador estas enérgicas palavras.

— É inútil prosseguir n’essa linguagem. Que o rei do Piemonte abjure seus delitos, que me restitua meus Estados, e então consentirei em recebê-lo. Mas antes disso, não.

(PIO IX, SUA VIDA, SUA HISTÓRIA E SEU SÉCULO – ANO 1877 – PÁG. 397)