Jardim das Heresias

EXCERTOS DO LIVRO “JARDIM DAS HERESIAS”, ONDE OLAVO DEFENDE, DENTRE OUTRAS COUSAS, A IMPOSSÍVEL E HERÉTICA ALIANÇA ENTRE O “CRISTIANISMO” E A MAÇONARIA:

EIS AQUI O LINK DA VERSÃO QUE FOI UTILIZADA:

[O tal filósofo, que se diz católico, afirma que os Estados Unidos são a maior nação cristã do mundo, mas o protestantismo não é Cristão, mas sim uma heresia. E os EUA com o formato de nação atual foram fundados pela maçonaria. O maçom George Washington foi o primeiro presidente americano, iniciou seu mandato em 1789 (mesmo ano em que financiou a maçônica – portanto anticatólica e sangrenta – Revolução Francesa).

Vejamos o que diz São Pio X no seu Catecismo sobre a heresia protestante:

“O Protestantismo ou religião reformada, como orgulhosamente a chamam seus fundadores, é o compêndio de todas as heresias que houve antes dele, que houve depois e que pode ainda nascer para a ruína das almas.”]

<<< Início dos trechos do herético livro mencionado: >>>

[…] O cristianismo, de fato, não quis destruir o Império, mas não podia submeter-se a ele; nem quis restaurá-lo, mas não podia subsistir e expandir-se senão sob a proteção dele. René Guénon, que sempre deve ser ouvido nessas matérias, explica o fenômeno dizendo que o cristianismo não tinha, originariamente, o espírito de uma lei religiosa, no sentido judaico ou islâmico de uma regra para a ordenação do mundo, mas o de um esoterismo, de um caminho puramente interior: “Meu reino não é deste mundo.” A exoterização do cristianismo, sua transformação numa lei religiosa para o conjunto da sociedade, teria sido causada por circunstâncias externas: a decadência da religião romana e do judaísmo deixavam o mundo greco-romano praticamente sem qualquer lei religiosa — e o cristianismo, mesmo a contragosto, mesmo ao preço de trair em parte sua vocação interiorizante, teve de preencher providencialmente uma lacuna que ameaçava alargar-se num abismo e engolfar a civilização. O cristianismo salva o mundo antigo, absorvendo-o num novo quadro, mas, para isso, tem de se deixar absorver nele e transformar-se, mediante adaptações bastante deformantes, numa nova Lei exterior, na religião do Império.

Não precisamos endossar por completo a tese de Guénon para admitir o fato patente de que o cristianismo, malgrado sua imensa força de renovação espiritual, não estava muito bem dotado para reorganizar a sociedade civil e política. No Evangelho não se encontra uma indicação, uma linha, uma palavra sequer a respeito da organização política e econômica, da moral exterior, do direito civil e penal, como se encontram com abundância na Torah, no Corão ou nas Escrituras hindus. O cristianismo era essencialmente uma “via de salvação”, que voltava as costas para este mundo, concentrando todos os esforços na busca da Cidade Celeste. Para transformar-se numa força organizadora da Cidade Terrestre, ele teve de sofrer adaptações que arriscaram deformá-lo profundamente. Não existe, em toda a História das Religiões, outro caso de uma moral religiosa que tenha passado por tantas mudanças e transformações. A moral social cristã, com efeito, não emerge pronta e óbvia da letra das escrituras, como a islâmica ou a judaica, mas se elabora aos poucos, ao fio de tremendas disputas dialéticas, por obra dos teólogos e dos concílios, crescendo, não como a progressão linear de uma simples dedução lógica, mas como um organismo vivente, entre dores e contradições. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 180, 3ª Edição)]

[…] Tudo isso mostra a profunda inadaptação do cristianismo à missão reguladora e civilizadora de que foi incumbido pelo desenrolar dos fatos. Entre a inadaptação congênita e a força da obrigação externa, o resultado foi duplo: de um lado, um esforço milenar e repetidamente fracassado para erguer um Império cristão, unificando o Ocidente. Com efeito, no Ocidente só existiu império cristão, no sentido mundial, durante o reinado de Carlos Magno. No restante da história européia o Império é apenas uma ideia unificadora, pairando no abstrato sobre um caos de principados e ducados perpetuamente em guerra uns com os outros. De outro lado, e em função mesma do fracasso do Império, surge a transformação do papado num poder temporal concorrente, com todo o seu cortejo de conseqüências nefastas. A principal, evidentemente, foi a mundanização do culto, o rebaixamento da moral cristã a um receituário de exterioridades tão opressivo e falso quanto o moralismo estatal romano, a cristalização progressiva da doutrina num formalismo lógico-jurídico deprimente e, por via de conseqüência, a politização completa da religião na época pós-renascentista, como um conservadorismo monárquico, de início, que aos poucos iria se transformando no seu contrário: num ativismo republicano, liberal e socialista. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 181, 3ª Edição)]

[…] Se a autoridade espiritual é em tese superior ao poder terreno pela mesma razão que faz o espírito superior à força bruta, em que medida a Igreja de Roma, representada pelo seu Papa, era pura autoridade espiritual? Não era também ela um poder temporal, contaminado portanto de força bruta? Em que medida a pesadíssima organização diplomática, política e burocrática de Roma é movida pelo sopro do Espírito ou pelo entrechoque mecânico das forças deste mundo, tal como a política dos reinos e dos impérios? […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 200, 3ª Edição)]

[…] A verdadeira unidade da Igreja, por isto, nunca residiu na força monolítica da administração central romana, mas, precisamente ao inverso, na floração espontânea da santidade nos lugares mais imprevisíveis e mais afastados de todo contato com a burocracia vaticana. Mas essa unidade permanece profunda, latente, oculta: quando se manifesta à luz do reconhecimento público, é para cristalizar-se na forma de um domínio teocrático que, impondo seu jugo sobre o poder mundano, logo se rompe sob a pressão da rebelião aristocrática e monárquica. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 200, 3ª Edição)]

[…] Em primeiro lugar, a religião do Novo Mundo é maçônica. Todos os signatários da Declaração da Independência, sem exceção, pertencem a alguma loja maçônica. Desse momento em diante, ninguém, mas absolutamente ninguém faz carreira política nas três Américas sem ter de entrar para a Maçonaria, prestar satisfações à Maçonaria ou enfrentar a Maçonaria. O fato é demasiado notório para que seja preciso demonstrá-lo. A carreira de Fernando Henrique Cardoso — o político ruim de voto que, recebendo a iniciação maçônica, em poucos anos chega à presidência vencendo a candidatura aparentemente imbatível de Luís Inácio Lula da Silva — ilustra-o novamente. Só que, entre apóstolos e adversários dessa organização, mais são os interessados em mistificar do que em esclarecer o seu papel na história espiritual da humanidade. Entre os primeiros, a mistificação toma a forma de especulações fantásticas sobre a antiguidade maçônica — abusando de analogias que são tomadas por identidades históricas — e de um jogo duplo na ocultação-revelação do papel desempenhado pela entidade nos lances decisivos da História: os projetos de risco são ocultados sob o manto da discrição, quando não da secretude, mas, a posteriori, tudo aquilo que dá certo é atribuído à ação genial da Maçonaria. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 213, 3ª Edição)]

[…] Pelo lado adversário, há evidente mistificação em interpretar toda a simbólica maçônica, inclusive a das iniciações de ofícios, no sentido de um anticristianismo rasteiro sugerido pelas falas de próceres maçônicos de uma época muito posterior; há engano, ou má-fé, em atribuir à ação maçônica no mundo uma unidade de intenções e de estratégia; há engano e má-fé em explicar todo o enfraquecimento do espírito cristão no mundo como efeito de uma conspiração maçônica. O primeiro desses três erros, movido por um intuito de interpretar as coisas preconceituosamente, mutila e comprime a linguagem simbólica num unidimensionalismo que nada poderia justificar. O segundo negligencia o curso freqüentemente caótico, múltiplo e incontrolável que assumem os empreendimentos secretos, principalmente quando atravessam as gerações e os séculos e não têm, a resguardar-lhes a continuidade e a unidade, senão a força sutil e às vezes apenas simbólica dos egregoroi, que um rito basta para desfazer em fumaça. O terceiro omite o fato, historicamente comprovado, de que a própria Maçonaria foi alvo de conspirações, divisões e ataques de organizações ainda mais secretas, que pretenderam usá-la para fins diversos, e de que dentro dessas mesmas organizações, por sua vez, surgiam conspirações e segredos, numa pirâmide invertida onde a treva mais densa assombrava e governava a menos densa… Enfim, a ideia mesma de conferir a uma sociedade secreta a unidade doutrinal e administrativa de uma Igreja é de um ridículo sem par. O secreto não age, historicamente, em linha reta, mas pela eficácia do caos, da divisão e da suspeita que afeta aqueles mesmos que o servem. Empreendimentos como o de Mons. Dupanloup, por exemplo, que tentam ciscar nas palavras dos próceres maçônicos os elementos com que possam compor uma doutrina maçônica, para em seguida melhor combatê-la no campo dos argumentos lógicos, são inteiramente infrutíferos, ainda que filosoficamente respeitáveis; pois a doutrina assim encontrada é apenas uma dentre muitas possíveis; é, na melhor das hipóteses, a doutrina dominante na Maçonaria de uma dada época, pronta a ceder lugar a outra na época seguinte. O grande reformador maçônico do século XX, René Guénon, encontrou a organização num estado de vácuo doutrinal, que uma profusão de ritos e símbolos, aliada a uma retórica sufocante, só bastava para disfarçar ante os intelectos menos exigentes. Guénon preenche esse vácuo com a mais densa metafísica. Bem, ao maçonismo guénoniano os argumentos de Mons. Dupanloup já nada têm a opor […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 214, 3ª Edição)]

[…] O crescimento da Maçonaria no século XVIII, a Revolução Francesa e o nascimento do Império Americano não marcam assim a extinção do poder aristocrático, mas uma gigantesca reciclagem da casta aristocrática. É essa reciclagem que inaugura propriamente os tempos modernos, o mundo de hoje. Ela define-se pelos seguintes traços: 1ª Substituição das antigas aristocracias de sangue pela nova aristocracia iniciática. 2ª Caráter secreto ou pelo menos discreto do novo poder aristocrático. 3ª Formidável concentração do poder do dominador, aliada a uma não menos formidável expansão dos direitos nominais do dominado. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 215, 3ª Edição)]

[…] Mas os Estados Unidos são o primeiro país cujos governantes são todos ou quase todos maçons, e onde, não havendo oficialmente religião protegida pelo Estado, a situação de facto é: governo maçônico. E governo maçônico quer dizer o seguinte: todos os conflitos abertos, todas as disputas políticas travadas diante do público, que constituem a pulsação mesma da vida democrática, não são senão a exteriorização de divergências nascidas e elaboradas dentro da Maçonaria. A espuma democrática encobre e disfarça a luta interna no seio de uma nova aristocracia, cuja unidade espiritual repousa nas mãos de um novo sacerdócio. Logo em seguida, quando o Brasil imitar o exemplo norte-americano e proclamar sua independência da Europa, a vida parlamentar do Império não consistirá de outra coisa senão de debates entre maçons, cujas divergências se erguiam sobre o fundo comum de um pacto de lealdades secretas. São maçons os conservadores, são maçons os liberais, é maçom o Imperador, são maçons os agitadores republicanos. Pairando invisivelmente sobre todas as forças em luta, a Maçonaria sai vencedora em qualquer hipótese. Muito mais que o Imperador, ela é o verdadeiro “poder moderador” — a autoridade espiritual que acolhe em seu seio maternal os partidos em disputa e unge a fronte do vencedor com o óleo bento da legitimidade. É um simplismo grosseiro, portanto, atribuir à Maçonaria a responsabilidade pelos movimentos revolucionários, porque ela não se compromete com aqueles a quem auxilia, do mesmo modo que a Igreja medieval não se comprometia em conflitos dinásticos: sua função é eclesial, não real ou imperial. Como a Igreja, ela dá nascimento a uma aristocracia, a uma casta governante, e, sem mesclar-se diretamente no governo deste mundo, influencia decisivamente o curso das coisas, ensinando, orientando, estimulando, conciliando ou dividindo, e equilibrando enfim — ao menos idealmente — o movimento do conjunto. O que a diferencia da Igreja é menos a sua ideologia — vaga, indefinida e elástica o bastante para comportar todos os arranjos e acomodações — do que a sua invisibilidade. Quaisquer que fossem as intenções de seus fundadores, o advento do governo maçônico nas Américas abre uma nova etapa na História do mundo: a era do segredo. Daí por diante, a democratização progressiva das instituições, que é o aspecto mais patente da evolução política mundial, correrá parelha com o aumento incalculável da influência das organizações secretas, sobretudo das organizações estatais secretas do século XX ¾, que neutralizará os efeitos da democratização para reduzi-la a pouco mais que uma distribuição de doces para aplacar criancinhas zangadas. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 218, 3ª Edição)]

[…] Ora, qual o legado dessa Revolução ao mundo? A democracia? Não pode ser, visto que ela convive perfeitamente bem com ditaduras, quando lhe interessa, e visto que a subsistência de uma aristocracia maçônica associada de perto a uma oligarquia econômica é um dos pilares mesmos do sistema norte-americano. O capitalismo liberal? Também não, porque o próprio sistema norte-americano, através da expansão do assistencialismo estatal, acabou por assimilar várias características da socialdemocracia. O republicanismo? Não, porque os elementos democráticos e igualitários da ideologia norte-americana que se espalharam pelo mundo puderam, sem traumas, ser incorporados por antigas monarquias tornadas constitucionais, como a Inglaterra, a Dinamarca, a Holanda, a Espanha. Dos vários componentes da ideologia revolucionária norte-americana, o único que foi assimilado integralmente, literalmente e sem alterações por todos os países do mundo foi o princípio do Estado leigo. Se é verdade que “pelos frutos os conhecereis” ou que as coisas são em essência aquilo em que enfim se tornam, a Revolução Americana só é democrática, republicana e liberal-capitalista de modo secundário e mais ou menos acidental: em essência, ela é a liquidação do poder político das religiões, a implantação mundial do Estado sem religião oficial. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 224, 3ª Edição)]

[…] Mas será, por outro lado, adequado dizer que o Estado norte-americano é leigo, é agnóstico, é indiferente em matéria de religião? Pois não acabamos de ver que é um Estado maçônico? Que a Maçonaria, formando as consciências de seus membros através de ritos e símbolos, exerce rigorosamente a função de direção espiritual? Que a aristocracia maçônica é encimada por uma casta sacerdotal que arbitra em última instância as lutas políticas sem nelas se imiscuir diretamente? O Estado leigo tem religião, sim. Só que é um esoterismo ao qual não corresponde, no andar de baixo da sociedade, nenhum exoterismo em particular, porque, no novo quadro, a função de exoterismo, ou religião popular, é exercida por toda a pululação de religiões e seitas em disputa. Judaísmo e cristianismo, islamismo e budismo tornaram-se aí meras “seitas populares”, ao lado do espiritismo e da teosofia, da New Age e da ufologia, todas niveladas e integradas na grande liturgia da religião civil, umas a contragosto, outras de bom grado, outras ainda sem terem a menor ideia de a quem servem. Acima de todas elas paira, invisível e onipotente, a Religião do Império, perpetuada no culto discreto oficiado por uma nova casta sacerdotal colhida nos escalões superiores da aristocracia maçônica. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 227, 3ª Edição)]

[…] No romance de Goethe, à medida que Wilhelm supera a revolta juvenil para integrar-se no mundo real como cidadão educado e prestativo, a sociedade se revela como um microcosmo à imagem do universo dirigido por potências benévolas. A extraordinária beleza desta imagem da ordem universal não deve porém fazer-nos esquecer que nela se trata apenas daquilo que se chama uma iniciação de “Pequenos Mistérios”, isto é, a revelação da ordem histórico-cósmica; e que tão logo os Pequenos Mistérios se fazem passar por uma finalidade em si mesmos, se tornam um entrave ao desenvolvimento espiritual do homem, barrando-lhe o acesso aos “Grandes Mistérios” onde a ordem cósmica é transcendida pelo conhecimento do infinito e do divino. Ora, a maçonaria, como todas as demais vias espirituais originadas em iniciações de ofícios, é em essência uma iniciação de Pequenos Mistérios, e só conserva seu sentido quando integrada no corpo de uma tradição espiritual maior, capaz de absorver o conhecimento dos mistérios cósmicos como uma etapa transitória no caminho para o conhecimento de Deus. E o que caracteriza de maneira mais enfática o período aqui mencionado é precisamente a ruptura entre os Pequenos e os Grandes Mistérios, a tentativa de fazer da iniciação histórico-cósmica a etapa terminal do sentido da vida, de barrar ao homem o acesso ao infinito e aprisioná-lo na dimensão terrestre. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições (pg. 230, 3ª Edição)]

[…] É altamente significativo que Goethe, tendo vivenciado a ruptura maçônica com a tradição cristã e se tornado o porta-voz por excelência da ideologia histórico-progressista, sentisse de maneira mais ou menos obscura, durante toda a sua vida madura, a insuficiência espiritual dos Pequenos Mistérios e buscasse insistentemente uma perspectiva espiritual mais elevada. Dividido entre o impulso espiritual e a rejeição maçônica do cristianismo, ele não viu outra saída senão buscar a espiritualidade superior numa tradição religiosa vizinha: o Islam. Os temas da espiritualidade islâmica, aprendidos na devotada leitura dos grandes poetas e pensadores místicos persas e árabes, são uma presença constante na lírica goetheana. Em conversações privadas, Goethe manifestou várias vezes sua apreciação pelo profeta Mohammed, que chegou a tomar por tema de uma peça, infelizmente não concluída. A consideração de uma possível “saída islâmica” para o conflito pressagia, com um século e meio de antecedência e em escala pessoal, a formulação do drama Ocidental que viria a ser dada por René Guénon. De acordo com Guénon, a civilização do Ocidente, se não conseguisse reunificar Maçonaria e Cristianismo — Pequenos e Grandes Mistérios —, restaurando o corpo cindido da espiritualidade tradicional, não teria alternativa senão cair na barbárie ou islamizar-se. Como ambas estas últimas tendências não cessaram de se fortalecer nas décadas que transcorreram desde o diagnóstico guénoniano — sendo as marcas da barbárie ascendente tão pronunciadas quanto a expansão islâmica nos países europeus e mesmo nos Estados Unidos —, não se sabe aí o que é mais notável: a exatidão da profecia do grande asceta francês ou sua antecipação na alma do poeta alemão (Goethe). […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 231, 3ª Edição)]

Olavo declara, na nota 189, que não é “nem maçom, nem antimaçom”. [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 253, 3ª Edição)]

[…] 7. A Igreja, ao pretender fundar um Império, caiu na armadilha da restauração romana, ajudando a alimentar o monstro imperial que viria a devorá-la. 8. A restauração do Império romano, sob formas variadas e adaptadas às condições do tempo, é a meta que norteia, de maneira semiconsciente, a história política do Ocidente, marcada por quatro grandes empreendimentos: o Império de Carlos Magno; o Sacro Império Romano de Otto I; a emergência dos impérios coloniais; o império leigo (fracassado em versão napoleônica, mas bem-sucedido na América). 9. O surgimento dos impérios coloniais estilhaça a unidade cristã; o que restar de cristianismo será destruído pelo império leigo. Junto com o cristianismo, as demais religiões serão rebaixadas a “cultos permitidos”, funcionando como seitas populares no novo quadro do Império leigo. 10. A ruptura do sentido cristão da vida dá surgimento às duas correntes de idéias — naturalistas e historicistas — cujo entrechoque constituirá o Leitmotiv da história cultural moderna, ajudando a consolidar o culto das divindades cósmicas — naturais e sociais — que constituem em substância a religião estatal do Novo Império. 11. A Revolução Americana que incorpora o ideal do império leigo tende a mundializar-se, arrastando na sua torrente todas as forças intelectuais e políticas que, de uma forma ou de outra, acabam por colocar-se involuntariamente a seu serviço. Ela intervém decididamente e a fundo na estrutura da alma de todos os seres humanos colocados ao seu alcance, instaurando neles novos reflexos, novos sentimentos, novas crenças que constituirão, em essência, a cultura pós-cristã, ou mais claramente: anticristã. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 265, 3ª Edição)]

[…] Os neoliberais têm toda a razão em apontar os Estados Unidos como um exemplo de que a democracia capitalista é – para dizer o mínimo – o menos inviável dos sistemas políticos. Mas os méritos do sistema norte-americano não são devidos à ideia democrática enquanto tal, nem muito menos ao capitalismo como tal, mas ao fato de que uma e outro, para absorver e neutralizar hegelianamente o cristianismo na nova sociedade que geraram, tiveram de cristianizar-se ao menos em parte. Os valores cristãos, profundamente arraigados na mentalidade popular, serviram constantemente de balizas que limitavam e disciplinavam os movimentos do Estado e do mercado, dando um sentido ético e até espiritual ao que por si não tem nenhum; e, como o discurso político era fatalmente interpretado e julgado em função desses valores, mesmo o político que não acreditasse neles, mesmo o maçom de estrita observância, tinha de proceder exteriormente como cristão. Com extrema freqüência acabava por vigorar na prática o princípio católico – “age como se tivesses fé e a fé te será dada” –, e o cristianismo de mera pose acabava por dar aos atos políticos um sentido e um efeito cristãos de pleno direito. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 278, 3ª Edição)]

[…] Ao mesmo tempo, é notório que o credo americano – democracia, lei e ordem, voto, liberdade de imprensa etc. – só aos poucos e graças a esforços prodigiosos de gerações de propagandistas se disseminou entre populações que, muito antes, já traziam o cristianismo no sangue, pois descendiam do primeiro povo cristão da Europa. Era, assim, fatal que as idéias democráticas recebessem espontaneamente uma interpretação cristã, o que terminou por fazer dos Estados Unidos essa contradição viva: um Estado leigo maçônico, onde uma elite de céticos e inimigos da fé governa a maior população cristã do mundo. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 279, 3ª Edição)]

[…] A heterogeneidade essencial das forças que compunham o ideal americano – maçonismo e cristianismo – pôde ser ocultada por um tempo, precisamente pela mesma razão que permitiu a Abraham Lincoln passar em público por grande líder cristão: pela razão de que seus intuitos (em si mesmo nem cristãos nem anticristãos, mas, digamos assim, extracristãos) foram aceitos na medida em que o povo os interpretava como cristãos e acabava por cristianizá-los. Na medida em que o ideal maçônico do Estado leigo democrático se realiza, ele se assume como independente do cristianismo e, na mesma proporção, põe à mostra suas próprias fraquezas e contradições. Ele prega, por exemplo, que devemos respeitar a vida humana como um bem sagrado, ao mesmo tempo que ensina nas escolas que ela não é senão o resultado fortuito de uma combinação de átomos; que as diferentes culturas devem ser preservadas em sua pureza, contanto que consintam em perder toda importância vital e em tornar-se adornos turísticos para embelezar a cultura maçônico-democrática; que o homem tem o direito de cultuar Deus à maneira de sua religião, contanto que coloque acima desse Deus as leis e instituições do Estado leigo; que a liberdade sexual é um direito inalienável, contanto que os homossexuais não pratiquem sodomia e os heterossexuais não façam propostas eróticas às mulheres; e assim por diante, numa permanente estimulação contraditória que está na raiz da violência e da loucura que hoje marcam a sociedade americana e todas as sociedades que se colocaram sob a órbita da influência ideológica da Revolução Americana. Muitos analistas do fenômeno americano já estão se dando conta de que a democracia depende de que existam no povo certas virtudes que ela não criou nem pode criar, mas que recebeu prontas da civilização cristã e que não sobrevivem à descristianização da sociedade. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 280, 3ª Edição)]

[…] Se hoje não podemos desistir nem do Estado democrático nem do fundo cristão sem o qual ele perde todo sentido e se transforma no neototalitarismo do “politicamente correto”, e se por outro lado a dinâmica anticristã do Estado leigo parece uma fatalidade inerente à constituição mesma do novo Império, isto mostra o que foi dito parágrafos acima, que a ruptura entre Maçonaria e Cristianismo está na raiz da tragédia contemporânea. […] [Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, (pg. 282, 3ª Edição)]

<<< Final dos trechos do herético livro mencionado! >>>

ABAIXO TRECHOS DAS BULAS PAPAIS QUE CONDENAM A MAÇONARIA E INCLUSIVE A APROXIMAÇÃO DE CATÓLICOS COM OS MAÇONS:

“[…] Por conseguinte, tendo em mente o grande prejuízo que é muitas vezes causado por essas Sociedades ou Convenções não só para a paz do Estado temporal, mas também para o bem-estar das almas, e percebendo que eles não possuem, por qualquer das sanções civis ou canônica; e uma vez que Nós somos inspirados pela palavra divina que é a parte do fiel servo e do comandante da casa do Senhor para assistir dia e noite o açoite de tais homens contra o lar agindo como ladrões e, como raposas que procuram destruir a vinha; de fato, para evitar que os corações dos simples sejam pervertidos e os inocentes sejam feridos secretamente por suas flechas e para bloquear a ampla estrada que poderia ser aberta para a ação de pecado e pelas justas e razoáveis motivações conhecidas por Nós; e por isso, depois de ter tomado conselho de alguns de nossos Veneráveis Irmãos entre os Cardeais da Santa Igreja Romana, e também de nossa própria reflexão a partir de certos conhecimentos e de madura deliberação, com a plenitude do poder apostólico, que decidimos fazer e decretar que estas mesmas Sociedades, Companhias, Assembléias, Reuniões, Congregações,ou Convenções de Liberi Muratori ou de Franco-Maçons, ou de qualquer outro nome que estas possam vir a possuir, estão condenadas e proibidas, e por Nossa presente Constituição, válida para todo o sempre, condenadas e proibidas.

Deste modo, Nós ordenamos precisamente, em virtude da santa obediência, que todos os fiéis de qualquer estado, grau, condição, ordem, dignidade ou preeminência, seja esta clerical ou laica, secular ou regular, mesmo aqueles que têm direito a menção específica e individual, sob qualquer pretexto ou por qualquer motivo, devam ousar ou presumir o ingresso, propagar ou apoiar estas sociedades dos citados Liberi Muratori ou Franco-maçons, ou de qualquer outra forma como sejam chamados, recebê-los em suas casas ou habitações ou escondê-los, associar-se a eles, juntar-se a eles, estar presente com eles ou dar-lhes permissão para se reunirem em outros locais, para auxiliá-los de qualquer forma, dar-lhes, de forma alguma, aconselhamento, apoio ou incentivo, quer abertamente ou em segredo, direta ou indiretamente, sobre os seus próprios ou através de terceiros; nem a exortar outros ou dizer a outros, incitar ou persuadir a serem inscritos em tais sociedades ou a serem contados entre o seu número, ou apresentar ou a ajudá-los de qualquer forma; devem todos (os fiéis) permanecerem totalmente à parte de tais Sociedades, Companhias, Assembleias, Reuniões, Congregações ou Convenções, sob pena de excomunhão para todas as pessoas acima mencionadas, apoiadas por qualquer manifestação, ou qualquer declaração necessária, e a partir da qual ninguém poderá obter o benefício da absolvição, mesmo na hora da morte, salvo através de Nós mesmos ou o Pontífice Romano da época.

Além disso, Nós desejamos e ordenamos que todos os bispos e prelados, e outras autoridades locais, bem como os inquisidores de heresia, investiguem e procedam contra os transgressores, independentemente da situação, grau, condição, ordem de dignidade ou preeminência que venham a ter; e que venham a perseguir e punir a todos com as sanções competentes da mais alta suspeição de heresia. Para cada um destes e a todos destes Nós concedemos e garantimos a livre faculdade de solicitar o auxílio do braço secular, em caso de necessidade, para investigar e proceder contra aqueles mesmo transgressores e para persegui-los e puni-los de acordo com as competentes sanções.
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(Bula “In Eminenti Apostolatus Specula” do Papa Clemente XII de 1738)

“[…] “Na verdade, cada um de vocês conhece bem a natureza e as intenções de seitas, seja chamada Maçonaria ou algum outro nome. Quando se compara a natureza, propósito e amplitude do conflito travado em quase toda parte contra a Igreja, não se pode duvidar que a atual calamidade deve ser atribuída, na maior parte, às suas astúcias e maquinações. É através dessas sinagogas de Satanás que eles estabelecem sua forças, aperfeiçoam seus métodos e se juntam a batalha contra a Igreja de Cristo.” … “Uma vez que essas coisas são assim, veneráveis irmãos, aplique todo o seu esforço para proteger os fiéis comprometidos com isso contra todas as armadilhas e contágio dessas seitas. Assim, traga de volta aqueles que infelizmente se juntaram a estas seitas. Exponha especialmente o erro daqueles que foram enganados ou aqueles que afirmam agora que as intenções dessas associações obscuras são só os trabalhos sociais, o progresso e o exercício de benefícios mútuos. Explique a eles a importância dos decretos pontificais que tratam desse assunto. Ensine-lhes também que estes decretos não se referem apenas aos grupos maçônicos da Europa, mas também aos da América e outras regiões do mundo.”
–>
(Bula “Etsi Multa Luctuosa” do Papa Pio IX de 1873).

“[…] Em primeiro lugar, arrancai à Maçonaria a máscara com que ela se cobre, e fazei-a ver tal qual é. Em segundo lugar, por Vossos discursos e por Cartas pastorais especialmente consagradas a esta questão, instruí Vossos povos; fazei-lhes conhecer os artifícios empregados por essas seitas para seduzir os homens e atraí-los às suas fileiras, mostra-lhes a perversidade das suas doutrinas e a infâmia dos seus atos. Lembrai-lhes que, em virtude das sentenças várias vezes proferidas pelos Nossos predecessores, nenhum católico, se quiser permanecer digno do seu nome e ter da sua salvação o cuidado que ela merece, sob qualquer pretexto, pode filiar-se à seita dos maçons. Que ninguém, pois, se deixe enganar por falsas aparências de honestidade.
–>
(Bula “Humanum Genus” do Papa Leão XIII de 1884).

LISTA COM 20 DOCUMENTOS PAPAIS CONTRA A MAÇONARIA:

– “In Eminenti Apostolatus Specula” do Papa Clemente XII de 1738;
– “Provida Romanorum Pontificum” do Papa Bento XIV de 1751;
– “Ecclesiam A Jesu Christo” do Papa Pio VII de 1821;
– “Quo Graviora Mala” do Papa Leão XII de 1826;
– “Litteris Altero” do Papa Pio VIII de 1830;
– “Mirari Vos” do Papa Gregório XVI de 1832;
– “Qui Pluribus” do Papa Pio IX de 1846;
– “Quibus Quantisque Malis” do Papa Pio IX de 1846;
– “Apostolicae Sedis Moderationi” do Papa Pio IX de 1869;
– “Quamquam Dolores” do Papa Pio IX de 1873;
– “Etsi Multa Luctuosa” do Papa Pio IX de 1873;
– “Exortae in ista” do Papa Pio IX de 1876;
– “Etsi Nos” do Papa Leão XIII de 1882;
– “Humanum Genus” do Papa Leão XIII de 1884;
– “Officio Sanctissimo” do Papa Leão XIII de 1887;
– “Dall’alto dell’Apostolico Seggio” do Papa Leão XIII de 1890;
– “Inimica Vis” do Papa Leão XIII de 1892;
– “Custodi di quella Fede” do Papa Leão XIII de 1892;
– “Praeclara Gratulationis Publicae” do Papa Leão XIII de 1894;
– “Annum Ingressi” do Papa Leão XIII de 1902.